domingo, 27 de fevereiro de 2011

Demandas reprimidas!

As bases fundamentais do fraternalismo giram em torno do binômio contribuir-usufruir em contraposição à sua antítese capitalista produção-consumo. Enquanto neste segundo o eixo central é o capital ou a propriedade do capital, no segundo o eixo que os une é a fraternidade. Dentre os valores norteadores do fraternalismo a gentileza e a elegância nos garantem que não é preciso nenhuma animosidade com quaisquer dos sistemas vigentes. Em que pese isto, não é menos verdadeiro que é necessário ressaltar as diferenças fundamentais. Enquanto no capitalismo existe um fomento exacerbado ao consumo, pois quanto mais houver consumo, mais haverá produção e o eixo do capital girará com maior velocidade. No fraternalismo é preciso para fazer a girar seu eixo a contribuição fraternal. Quanto mais contribuirmos com o nosso melhor de modo fraternal, mais acrescentaremos à nossas possibilidades de usufruto. Mais teremos fartura, mas é importante atender a uma das poucas objeções que foram feitas até então à idéia de fraternalismo.

Na idéia do fraternalismo existe a abolição do intermédio do dinheiro entre o contribuir e o usufruir, isto é, se em determinado momento alguém queira usufruir de um determinado produto este pode se dirigir à rede de distribuição e simplesmente tomar para seu uso o produto de seu interesse sem nenhuma contrapartida monetária ou de qualquer outro tipo. Tampouco se fará paridade entre a quantidade ou qualidade da contribuição efetuada por essa pessoa. Todavia, imaginemos que muitas pessoas queiram ao mesmo tempo fazer uso de um bom vinho. Dezenas de pessoas se dirigindo à rede de distribuição e querendo tomar para seu uso aquele vinho. Em certo momento pode haver desabastecimento e carência do produto. Mas, note-se que este é um problema que nasce no capitalismo e não no fraternalismo. Nasce de se olhar a partir do viés capitalista, onde grande parte da população está tolhida do consumo desse produto em sua rotina diária, não por nada senão pela falta do capital suficiente para adquiri-lo. Com as políticas assistencialistas oferecidas nos últimos tempos a população mais humilde, deserdada que fora por tanto tempo, se viu em condições de adquirir produtos até então vedados ao seu acesso. Aeroportos apinhados de gente nos períodos de férias gerando tumulto e desconforto. Para quem já estava habituado a voar de avião isso era um transtorno. Já para quem fazia uso pela primeira vez tudo é festa, e, diga-se de passagem, o tratamento não é diferente do que a maioria tem em geral em rodoviárias. A dificuldade se dá por existir uma demanda reprimida ou até oprimida. Ora, não havendo necessidade de se reprimir quaisquer demandas, tampouco se fazendo incentivo exagerado e desnecessário ao consumo. Pressupostamente, a idéia original do capitalismo de regulação de produção e consumo tenderia a se equilibrar mais em torno da contribuição e fruição e, com isso, desfazendo desequilíbrios.

Mas para que a coisa não fique apenas no pressuposto. Consideremos a hipótese do desabastecimento de produtos. Para uma grande parcela da população habituada ao consumo de arroz, feijão e farinha o acréscimo de uns bons pedaços de picanha, salmão, vitela, cabrito e caviar, tanto quanto de bons vinhos e wiskies seriam bastante bem vindos. Todavia, não é de se acreditar que toda essa população faria uso cotidiano desses produtos por anos a fio. Salvo poucas exceções ninguém toma wiskie 12 anos no café da manhã. Quando se tem fartura e acesso o consumo se dá de modo muito mais comedido. Os exageros, em geral ficam sempre por conta de demandas reprimidas. Ademais esse problema existiria somente se a implantação do fraternalismo se desse de modo vertical ou seja por imposição e não por adesão como é nosso entendimento.       


Jadir Mauro Galvão

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Tempo é Dinheiro!

Considerando os fundamentos e as bases do capitalismo e buscando contrastar seus eixos de sustentação, tanto quanto como ele se distingue de seus falecidos opositores, a saber: comunismo e socialismo, poderíamos ingenuamente acreditar que um dos elementos distintivos seria a “propriedade dos meios de produção”. Enquanto no capitalismo a propriedade dos meios de produção é privada, no socialismo ela é do estado e no comunismo a propriedade é “comum”. Ocorre que o eixo central do capitalismo foi-se deslocando ao longo do tempo. Na medida em que se deu um natural equilíbrio entre produção e consumo, claro que mediado pelo dinheiro, isto é, na medida em que havia uma redução do consumo regulado pela oferta de dinheiro. A produção já não proporcionava ganho competitivo aos seus proprietários. Era preciso dar um passo a mais. Não adiantaria produzir mais, pois isso acarretaria uma natural queda de valor pela maior oferta em relação à procura. Por um tempo se trabalhou no sentido de reter a produção com vistas a aumentar o valor de mercado, mas isso provocou apenas recessão e não se mostrou como uma alternativa interessante. Foi ai, então descoberta a variável do consumo. Como conhecer o consumo de modo à regular, isto é, aumentar e reduzir, ter controle sobre ele? Ciência da computação, estatísticas entre outras foram talhadas para obter esse conhecimento sobre consumo de tal modo a ter controle sobre o mesmo. Grandes empresas realizam pesquisas antes do lançamento de novos produtos e por ai vai. A partir disso nasceram os fast-foods o descartável e tudo mais. A propaganda é um excelente órgão regulador. Ela tem a capacidade de trabalhar nosso desejo de modo a atingir determinada meta de consumo. Os profissionais de propaganda ainda desconhecem seu poder e anda trabalham muito em função da produção e do comercio. Tivessem eles a real dimensão de sua atuação e seriam os novos proprietários do capitalismo, mas de qualquer modo isso retirou a primazia dos proprietários da produção. Na medida em que a propaganda não ocupou esse espaço promoveu uma vacância temporária. Os senhores da produção perderam seu reinado, seus sucessores naturais não se sentiram dignos de sucedê-los. Quem assume a majestade então?
Entre a produção e o consumo não há mais uma regulação natural. Ela pode ser controlada e manipulada. Todavia, existe outro elemento regulador. O dinheiro! De nada adianta aumentar o desejo de consumo pari passo com o aumento da produção se não existe dinheiro para mediar as duas pontas. Estabelecem-se assim os novos monarcas: os proprietários do dinheiro. A partir de então serão eles os reguladores, tanto da produção quanto do consumo. Os proprietários da produção precisarão recorrer a eles para aumentar sua produção. Na outra ponta, a falta de dinheiro não será mais empecilho para o consumo. Ao consumidor serão ofertados os meios para saciar temporariamente seu desejo de consumo.
Na medida em que emprestam dinheiro para a produção tornam-se co-proprietários dela. Se o proprietário da produção não puder pagar o empréstimo, sempre poderá abrir mão do negócio como meio de não cair na execração da inadimplência. O mesmo ocorre com a outra ponta se o consumidor não puder saldar sua promessa será obrigado a ficar fora do jogo do consumo, ou, quando muito, será obrigado a lançar mão dos recursos disponíveis no presente não sendo ele mais senhor de seu futuro, totalmente comprometido com seus novos proprietários. Financiar nossas aquisições em 36, 48 ou mais vezes é vender a propriedade do nosso futuro. Em momento algum da história o termo “tempo é dinheiro” foi mais verdadeiro.

Jadir Mauro Galvão

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Avanço tecnológico X filosofia!

A competitividade no mundo corporativo movimenta uma grande quantidade de recursos, sobretudo os que se alinham ao desenvolvimento tecnológico. O ganho de produtividade, a redução de custos, de mão de obra, mecanização, automação... Isso, sem a menor sombra de dúvida é bastante benéfico sob inúmeros aspectos. Todavia, devemos ter em mente que os avanços tecnológicos devem trazer benefícios, não só a uma pequena parcela de privilegiados, mas sim para toda a humanidade. Pode parecer um tanto piegas a princípio, mas vamos analisar as conseqüências disso.

Hoje nos temos alguns setores em franco crescimento tecnológico. Quem negará que a informática cresce espantosamente? Eu, de minha parte ainda creio que a informática está sobremodo atrasada. Seria exagero dizer que está na idade da pedra, mas ela ainda anda meio “egípcia” e não estou falando de nenhuma revolta popular muçulmana. São famosos os afrescos egípcios “bidimensionais” uma mãozinha pra cima outra pra baixo. (conseguem visualizar?). Poderíamos dizer que na época os que produziram os afrescos não dominavam as técnicas da “perspectiva”. Eu, honestamente, creio que eles tinham mesmo um modo de pensar, de ver as coisas e de se expressar de modo bidimensional. É exatamente esse ponto que eu quero tocar. Embora nossos desenhistas e pintores já dominem a “perspectiva” que nos coloca dentro da tridimensionalidade. Nós ainda pensamos, vemos as coisas e nos expressamos de modo bidimensional. Na informática isso não é diferente. Os modernos monitores de cristal líquido (que já existiam em calculadoras desde a década de 80 ao menos) e similares substituíram os antigos e enormes monitores de raios catódicos. Mas nossa interação com o computador ainda é plana! Mas não é somente na parte externa que o computador é plano. Os mais modernos bancos de dados ainda trabalham com armazenamentos em tabelas com linhas e colunas, ou seja, são conceitualmente planas. Mas isso não é somente uma crítica à área de TI. Ela é assim simplesmente pelo fato de que nós ainda pensamos assim. A tecnologia avança sobre as bases conceituais. Se conceitualmente pensamos desse modo solicitamos respostas tecnológicas alinhadas aos conceitos. Precisamos evoluir primeiro no nosso modo de pensar (no mínimo de modo tridimensional), para que a tecnologia nos de outro tipo de resposta. Na medida em que nossa solicitação for conceitualmente outra, a resposta tecnológica também o será.

Outro ponto que podemos colocar é: quantas pessoas ao redor do mundo estão pensando na solução para o trânsito nas grandes metrópoles? Centenas...milhares...milhões? Já pensaram em túneis, pontes, viadutos, aliás as técnicas de engenharia para a construção de viadutos “estaiados” vem se multiplicando em várias regiões de São Paulo criando mais e mais cartões postais. E ainda não pensaram em pequenos veículos aéreos! Ou melhor, podem até ter pensado, mas para adequar todas as linhas de produção de veículos terrestre para esse novo modelo, certamente se gastariam bilhões, então ficamos como está.

Não quero me estender muito nesse assunto, mas cabe ainda mais um comentário. Li, dia desses em um jornal, que o aproveitamento da energia eólica (dos ventos) necessitaria de grandes investimentos! Pasmem! Certamente não sou especialista no assunto, até gostaria que alguém me explicasse, mas dizer que umas tantas hélices e seus geradores e transformadores custariam mais do que os investimentos em Belo Monte sem contar com seus impactos ambientais?

Só para fechar. O que estou dizendo é que se os avanços tecnológicos ficarem somente à mercê do capital e não em benefício da humanidade como um todo, ao contrário do que se pensa, ficaremos mais atrasados.

Jadir Mauro Galvão 
02/02/2010

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ganho competitivo.

A maior parte de nós nasceu, cresceu e vive mergulhado no capitalismo. (A maior parte, pois podem existir aqueles que passaram pelos horrores vindos do outro lado da antiga “cortina de ferro”.) E, por isso, o capitalismo é tido por muitos, tão natural quanto “respirar ar”. É assim que funciona! E de outro (comunismo) não funciona! Os que lançaram seus olhos na história sabem que o capitalismo tem quase que um registro de nascimento e nem tão absurdamente longínquo assim. Poderíamos colocar a “revolução francesa” concomitante com a “revolução industrial”, como sendo seu signo astrológico.


Não muito longe dessa época, ganham espaço as idéias evolucionistas de Darwin e suas mais diferentes, inusitadas e quiméricas leituras. Surge nesse molho filosófico a competitividade no capitalismo, com força evolucionista. É mais “adaptado” aquele que é mais competitivo e somente este sobrevive. Uma profunda crise econômica assolava a Europa em fins do sec. XIX. Havia mercado para a venda dos produtos fabricados, mas uma horda de pobres europeus de diversas nacionalidades não tinha dinheiro para comprar nada. Essa legião de des-endinheirados migra, então, para o nosso querido Brasil. Foram alemães, italianos, espanhóis, portugueses. (bem digam a maioria de nossos antepassados. Os meus eram alemães misturados com franceses mais portugueses e índios canibais de Ubatuba. Que salada!). Junto desses vieram também muitas empresas dessas mesmas regiões. Krupp, Manesmann, Siemens, Saint Gobain, entre tantas outras. Esses imigrantes vieram para fugir da pobreza européia da época e de sua falta de oportunidade. Fugir da fome e da morte e isso tudo antes das duas grandes guerras mundiais.   

Entrelaçando rápida e temerariamente os assuntos, o fato é que hoje, nosso imigrante mais conhecido, o capitalismo, se arraigou de tal modo nas nossas consciências que salvo uma abnegada disposição para mudar muita coisa, somente uma lobotomia daria cabo de retirar e com ele seus alicerces. De modo que é preciso um modo de ver a vida bastante diferente para abrir mão da competitividade e adotar uma postura fraternalista.

Sem querer entrar no mérito dos antagônicos pensamentos de Hobbes e Russeau, creio que temos um contrato social que prega que o mais competitivo sobrevive e passamos muitas de nossas reuniões tentando sobreviver, quando não em eliminar o oponente que nos oferece risco. Contudo, eu pergunto: Trata-se realmente de sobrevivência ou somente é um apelo proveniente de um sulco cultural que foi se aprofundando no decorrer dos anos e que se entranhou como parasita em meio aos nossos mais primitivos instintos irracionais?

Na competição capitalista pressupostamente existem vencedores e perdedores. O perdedor “morre” então é coisa de sobrevivência.

O fraternalismo pressupõe outra dinâmica social. Contribuir e usufruir! Contribuímos com aquilo que nos é mais fácil, mais prazeroso, sobretudo com aquilo que temos mais competência e prazer. Usufruímos daquilo que necessitamos. Em épocas de vacas gordas, podemos nos esparramar na fartura. Em época de vacas magras precisaremos contribuir mais, Mas estaremos contribuindo com aquilo que nos é mais fácil e mais prazeroso. 


Jadir Mauro Galvão