segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sistema capitalista


Há algum tempo venho pensando sobre como será o mundo pós-capitalismo. Muito se comemorou a queda do muro de Berlim. Fato emblemático que permitiu a reunião de pessoas que se mantinham separadas por muros dentro de uma mesma cidade, falando o mesmo idioma, rezando o mesmo credo, mas separadas por ideologias diferentes. As segregações raciais ainda existentes ao redor do mundo parecem também se dissolver pouco a pouco. África do Sul, Iraque, a antiga Iugoslávia... os muros estão sendo derrubados ainda que timidamente. As recentes rebeliões, aparentemente buscando liberdade no oriente médio vêm oferecendo novos contornos ao mundo. Por outro lado, o fim da Guerra fria, também fez acabar com a ajuda mútua entre os países capitalistas. Nós, países em desenvolvimento ganhamos e perdemos com isso. Ganhamos o fim das ditaduras militares, historicamente financiadas pelos países ricos que temiam que o “comunismo” se alastrasse para além da Cortina de ferro enamoradas dos antigos regimes populistas. Ganhamos uma pretensa democracia, novos populismos. O upgrade na categorização de “Terceiro mundo” para “Em desenvolvimento”. Ganhamos uma autonomia para cuidar de nossas próprias contas e controlamos a inflação.
Todavia, o processo de globalização se tornou predatório. Produtores de rúcula, agrião, almeirão e chicória passaram para a monocultura do alface “macdonaldizado”. Bancos de lá e de cá foram engolidos pelos grandes. Empresas de vários ramos de atividade foram tragadas por conglomerados multinacionais com sedes nacionais ou internacionais (pouco importa!), ceifando centenas de milhares de postos de trabalho exigindo que os profissionais se reinventassem ou se tornassem “terceiros”. Por sorte a tecnologia e os cursos tecnológicos surgiram para suprir uma demanda crescente por mão de obra pouco mais qualificada. Ainda que em nossa economia brasileira um progresso represado durante anos possa agora ser experimentado sazonalmente, não podemos nos enganar e confiar que estamos imunes aos sobressaltos das crises econômico-especulativas que fazem muitos ao redor do mundo apertar um ou outro buraco do cinto.
Países inteiros em crise, pois a torrente financeira ascendente que marca a pirâmide social, aliada a incertezas dos mercados. Faz o capital de investimento que poderia irrigar a base da pirâmide descer timidamente e somente como capital especulativo. Recolhendo-se em sua maioria nas mãos privadas dos endinheirados. Essa situação não tem como perdurar por muito tempo. Penso que já sejam observáveis fissuras nas colunas de sustentação do próprio sistema capitalista. Não se trata de qualquer tipo de catastrofismo escatológico, mas de vislumbrar que o próprio capitalismo nasceu em meio a crise similar experimentada em regime ainda essencialmente feudal dando sinais claros de fadiga.
É que a maior parte de nós nasceu, cresceu e viveu mergulhado até o pescoço no capitalismo e, por falta de alternativas emergentes ainda soa epistemologicamente como verdade absoluta. Ledo engano! Peter Drucker nos diz que:

A cada dois ou três séculos ocorre na história ocidental uma grande transformação. [...] Em poucas décadas a sociedade se reorganiza – sua visão do mundo, seus valores básicos, sua estrutura social e política, suas artes suas instituições mais importantes. Depois de cinqüenta anos, existe um novo mundo. E as pessoas nascidas nele não conseguem imaginar o mundo em que seus avós viviam e no qual nasceram seus pais.

Penso que esse limiar de transformação está ocorrendo agora e em breve o capitalismo sucumbirá sendo sucedido por uma nova organização social, uma nova mediação social que não o capital e onde os binômios trabalho-remuneração e produção-lucro serão substituídos por contribuir-usufruir em mesma medida.
As empresas no paradigma atual visam essencialmente o lucro, mas se não houvesse mais o lucro haveria razão delas existirem? Para muitas penso que sim! Uma indústria de alimentos ainda teria um propósito e penso que ainda competiria em qualidade de produto com seu concorrente para que o produto a ser consumido fosse o seu e não o do concorrente. Uma indústria farmacêutica séria deve ter consciência de seu papel social. Mesmo não almejando o lucro penso que a Adidas gostaria de ver seu material esportivo vestindo uma porção de gente e não os da Nike e vice e versa. Modificaria a mediação social.
Hoje a mediação social entre pessoas, empresas ou governo é feita essencialmente por dinheiro. Compramos produtos e se não temos dinheiro (ou cartão de crédito!), não compramos. Moramos em nossas casas, mas apenas se pagamos os impostos para o governo. Chegamos ao absurdo de sequer nos relacionarmos com pessoas se elas não forem, em algum momento, interessantes financeiramente para uma recolocação profissional ou coisa que o valha. Amigos se transformaram de modo chic em network. Nós mesmos com raras exceções so trabalhamos ou contribuímos mediante remuneração (ou outro interesse!). Penso que os dias da mediação pelo capital não sejam longos. Os ares da nova era nos inspiram a superar a mesquinhez. Precisaremos aprender a viver em um mundo novo. Mas penso que teremos mais a ganhar em humanidade do que perder em dinheiro!