Cada um de nós vive sua vida “normalmente”: trabalhamos, compramos, buscamos novas oportunidades, nos divertimos, fazemos projetos, fazemos promessas, pedimos perdão por alguns excessos (por outros não!), vivemos esporadicamente sucessos e fracassos, dias de derrota e dias de glória. Contudo a maioria evita tanto uma quanto outra. Deixa a glória ou o fracasso para seus símbolos: seus ídolos do futebol, seus ídolos da música, da formula 1. Cabe a estes ousar, ser aguerrido, ser audacioso, fracassar na última curva, no último lance do campeonato, quebrar a corda da guitarra em pleno solo, cometer excessos! Vemos tudo isso, vibramos, criticamos, elogiamos, aplaudimos, vaiamos, mas no dia seguinte voltamos para nossa vida comum, onde não há espaço para a bravura, tampouco para o heroísmo. Não estamos salvando o mundo como ocorre a todo instante com os super-heróis. Os um pouco mais ousados e atrevidos, estudam, se atualizam, os outros vão para o happy hour. Alguns vão para o happy, apenas para fazer networking. Alguns buscam melhores oportunidades, outros preferem reclamar que elas não existem. Contudo estamos sempre jogando um jogo. Aqueles que correm maior risco, que podem chutar a bola para fora na hora “H”, estes ganham mais, muito mais, os outros acreditam que estes não deveriam ganhar tanto. Contudo compram suas camisas, vão vê-los no estádio, compram a camiseta com seu slogan e com isso fazem seus patrocinadores terem o sonhado lucro. Jogamos o jogo! Jogamos sem consciência de que estamos jogando. As regras já foram estabelecidas. Por quem? Voce hora ganha, hora perde, hora vai para o paredão e não se culpa por um ou outro lance que posa macular sua dignidade pois, foi por mera sobrevivência, não que a vida esteja em perigo, mas para a sobrevivência no jogo. Não conseguimos sequer pensar fora dos limites da regra do jogo. Jogamos o jogo! Mas de que jogo estamos falando?
Existe um muro. De um lado ficam os pobres, do outro os ricos. Os ricos empregam, os pobres são empregados, os ricos produzem, os pobres consomem. Uns precisam dos outros para que haja equilíbrio e perdure o jogo, mas como todo jogo, a maioria perde e a minoria ganha! Muitos estão buscando de um modo ou de outro pular para o outro lado do muro e entrar para o rol dos que ganham. Contudo, haveria espaço para que todos conseguissem ir para o outro lado? Não! Ou melhor, dentro desse jogo não! Então estamos, mesmo que de modo inconsciente, agindo no sentido de garantir que “nós” pulemos o muro, mas, sem saber agimos também para que alguém pule para o lado dos pobres de modo a garantir nosso espaço no outro lado, ou no mínimo que outros tantos não consigam como eu também mudar de lado. Quando isso ocorre, o que não é tão comum assim, passamos verdadeiramente para o outro lado. Agimos como ricos, nos vangloriamos de nosso esforço, de nosso empenho e desdenhamos dos que diferente de nós, não se esforçou. Muitos, contudo acreditam que precisariam abrir mão de sua ética e este seria um preço alto para pular o muro e não pulam. Ficam apenas jogando pedras do outro lado, mas continuam jogando, só que agora amargurando o ressentimento. Outros não se importam com isso e se esse for um caminho, tentam e lamentam da sorte, pois mesmo assim não conseguiram. Ainda não foi dessa vez! Avançaram uma casa no jogo e nela estava escrito: Volte duas casas! Jogamos o jogo!
Que alternativa nós temos? Não é possível virar a mesa ou derrubar todas as peças no chão como um mal perdedor o faria num jogo de tabuleiro, isso só é possível no jogo de bricadeirinha, mas só mostra como o jogador age na vida real. Sair do jogo não sei se é muito coerente. Conseguiríamos viver nossa vida sem internet, sem celular, sem casa, sem carro, sem pagar o supermercado? Acho que não dá para sair do jogo e simplesmente ficar criticando os que jogam. Pelo voto, pela guerra, pelo protesto? Xí, já vimos estes filmes e não acabam bem! Que alternativa temos?
Ao nos depararmos com esta pergunta pode parecer familiar enxergarmos à nossa frente uma via mais tortuosa, outra mais aprazível, embora pouco ética, outra mais escura e que nos provoca medo e outras tantas um tanto mais obscuras e enevoadas que poderiam eventualmente ser alternativas, mas prestem atenção: se são caminhos que voce consegue vislumbrar já foram pensados por alguém. Já fazem parte das alternativas da regra do jogo em questão. A idéia aqui é não é propor uma alternativa “A” ou “B”. Pegue em sua mão uma folha de papel em branco e olhe para ela. Alguns podem dizer que não há nada nela. Contudo um artista vê no papel em branco todas as possibilidades de expressão de sua arte. Um escritor não pode escrever em uma folha toda rabiscada com esboços ou por sobre um livro já escrito. Ele precisa de uma folha em branco. Esta é a mágica! Imagine-se perante seu futuro, não apenas diante de uma via ou outra, mas diante de um papel absolutamente em branco. Claro, voce pode optar por preencher este papel com um monte de coisas já conhecidas e elas simplesmente serão meras cópias, mal acabadas, recriações do mesmo jogo. mas voce pode criar algo genuinamente novo. Contudo vai perceber quando tiver uma grande idéia que vai ter de viabilizar esta idéia por dentro do jogo. Vai vencer o jogo, quem sabe, derrubando o muro. Vai utilizar as regras do jogo, mas não com os mesmos propósitos. Vai ter que enxergar por um outro ponto de vista. Vai ter de enxergar para além do jogo. E quando conseguir isso vai ter todas as cartas não mão para vencer o jogo e vai ter de optar entre vencer o jogo ou ser um agente transformador. Alguém que pode entrar para a história como herói, mas pode entrar na história como vilão, caso consiga mudar o jogo, mas caso não consiga o jogo certamente vai fazer voce desaparecer da história. No entanto, sinto muito em te dizer, voce pode achar que eu sou um herói ou um vilão, mas não vai poder nunca mais dizer que não sabe que esta jogando um jogo. Que postura voce terá frente a isso cabe à sua consciência. Coube à minha consciência abrir os olhos para esta verdade. Esta é uma de minhas tarefas, mas não quero estar sozinho neste jogo, mas já estou de mangas arregaçadas para mudar o jogo. Tenho propostas e vou colocar minhas cartas na mesa. Não é importante se vou seguir ou ser seguido. O plano é maior do que meras vaidades. O plano é suplantar um jogo que permeia as relações humanas por intermédio do dinheiro do interesse e da utilidade e estabelecer uma nova relação. Uma relação mediada por um sentimento de fraternidade que nem sei se está maduro o suficiente na humanidade para desabrochar. Mas sei que já o momento de levantar estas questões para que estas possam abalar num primeiro momento, não o jogo, mas o coração dos jogadores para que vejam o jogo e depois possam ver o jogo de modo diferente.