sexta-feira, 17 de abril de 2009

Adesão parcial ao modelo!

Talvez seja oportuna a consideração de que possa haver uma adesão parcial ao modelo. Ora, não é necessário que tenha uma adesão total ao modelo fraternal. Pelo contrário! É bem verdade, como já mencionamos anteriormente que no nível familiar isto já se dá. Dentro de nosso lar nossas relações se dão de forma fraternal. Nossas atividades não se pautam pela comercialização de serviços ou de produtos. Todos contribuem com algo para que a casa funcione e, mesmo assim, quase todos os dias saímos para o “trabalho” e interagimos no outro modelo (capitalista). É bem verdade, também que o modelo familiar fraternal necessita do aporte financeiro quetss vem do modelo capitalista para que se abasteça a casa de suas necessidades mais elementares, comida, água, luz etc. Todavia, em pequenas comunidades do interior do Brasil, vemos um modelo cooperativista que se assemelha ao fraternalismo e pode nos responder a algumas perguntas. Temos em algumas comunidades, sobretudo em comunidades que estariam mortas se fosse responsabilidade do capitalismo, modelos de cooperação onde várias pessoas dessa comunidade juntam esforços na produção para o desenvolvimento geral, num certo sentido este modelo é um modelo híbrido entre o comunismo e o capitalismo. A produção é coletiva, os benefícios também, mas o intermédio se dá no capitalismo onde a cooperativa comercializa a produção coletiva e efetua o aporte dos bens necessários à comunidade. No fundo, o capitalismo é exterior à comunidade que se serve dele apenas para manter seu modelo interno. Em verdade o modelo especificado é um cooperativismo. Isto pode perfeitamente ocorrer, no modelo fraternal. Não é nenhuma novidade isto que estamos apresentando, pois já encontramos este modelo na Utopia de Morus. Manter um modelo interno, em nível nacional que prime pelo fraternalismo e no que concerne às relações internacionais, que o intermédio seja efetuado por dentro do capitalismo fazendo um uso prático do mesmo, apenas para a manutenção do modelo interno e aguardando pacientemente que cada qual efetue sua adesão ao seu tempo. Contudo, se o modelo for adotado, tão somente em comunidades, tal qual nos referimos a pouco talvez seja necessário algum grau de cooperativismo, mas perceba que este modelo se assemelha ao que na natureza vemos em algumas relações entre animais e que a zoologia chama de comensalismo, onde ambos participantes da relação comem juntos de modo a que um alimenta o outro e o outro ajuda o primeiro. Esta é a relação, por exemplo, entre o jacaré e o passarinho. Jacaré se alimenta e logo após dorme com a boca aberta. O passarinho entra na boca do jacaré e, ao se alimentar, ajuda o jacaré limpando seus dentes.

Muito bem! O mesmo pode se dar se desenvolvermos novamente em nível cosmopolita o espírito de comunidade que perdemos em algum momento. Dentro da comunidade pode vigorar o modelo fraternal e externo à comunidade teremos a comunidade interagindo no mundo capitalista, contudo buscando sempre uma maior adesão ao modelo para que este fique auto-sustentado e crie independência do capital. Vivemos em um mundo globalizado e intercambiamos produtos por estarmos imersos no único modelo econômico vigente atualmente: o capitalismo, mas isso não significa que precisemos nos tornar reféns do capitalismo. Uma vez que produzimos em grande quantidade, podemos exportar o excedente e ainda manter nossa relação fraternal interna. Desde que tomemos por modelo um modelo de comunidade e uma relação cooperativa o modelo fraternal pode vigorar tranquilamente com ou sem dependência do capital externo.



Continua...

A marca da besta!

"E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres
e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou
nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou
vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da
besta, ou o número do seu nome." [Apocalipse 13:16-17].
Muito tem se falado nos últimos tempos, por conta de especulações escatológicas (que diz respeito ao juízo final. Apocalipse da bíblia), do uso da marca da besta na mão direita ou na testa e que só quem tiver esta marca poderá efetuar transações comerciais. Comprar comida, vestuário e as coisas mais básicas. O que estamos propondo aqui não é a utilização de qualquer outro tipo de instrumento de “pagamento”, mas sim uma troca, contribuição graciosa e fraternal entre as pessoas. É a não utilização do dinheiro, nem cartão de crédito, nem de débito, muito menos de qualquer tipo de identificação monetária, mas sim a substituição completa da idéia de monetário. Erradicação de qualquer tipo de intermediação entre o produto da contribuição de um ser humano e o usufruto de qualquer outro produto, produto da contribuição de qualquer outro ser humano, que não seja a mera oferta fraternal. Somos seres humanos e temos a mesma dignidade. Não é necessário mensurar o quanto de esforço (esforço é idéia do capitalismo), um homem teve na elaboração de sua contribuição, trazê-la a um denominador e depois compará-la com o produto de outro homem que também trouxe sua obra ao mesmo denominador comum. Não é isso! É sim, a fraterna oferta graciosa de nossa contribuição espontânea e o uso (e não o abuso) de todos os produtos que nos são necessários, ou até desejosos. Não vivemos, enquanto seres humanos, apenas por necessidade, mas também por puro deleite. O problema que estamos abordando não se trata de uma mudança perante ao tipo de contrapartida será escolhida como intermediação e permuta comercial, mas sim um novo tipo de interação humana! Mudando o foco da atenção desta relação. Hoje nossas relações estão pautadas utilitariamente frente a quanto será rentável determinada relação com outra pessoa. Quer este rentável signifique dinheiro propriamente dito ou algum tipo de benefício posterior do tipo networking ou coisa que o valha. Ora relações assim são pautadas por um interesse posterior à relação, ou seja, sua utilidade. Mude esta relação e teremos uma relação mais humana! Se não for mais útil nossa relação, poderemos escolher relações apenas por elas mesmas sem que tenhamos em vista sua utilidade futura. Isto nos faz olhar as pessoas, as mesmas pessoas que estão à nossa volta de uma forma diferente.
Hoje ainda vivemos como já falamos anteriormente, para o dinheiro, para atender nossas necessidades, embora muitas, nem sequer sejam reais necessidade. De forma interessada em garantir o acesso aos meios que atendam essas necessidades, pautamos nossas relações, em sua maioria, por interesse, pela utilidade que esta possa ter. Retire a necessidade e, magicamente, aflora um outro tipo de relação que prima pela falta de interesse secundário. As relações ou deixam de existir ou existem apenas pelo interesse em sí, sem interesses posteriores. Novamente, ratifiquemos: não se trata de mudar a intermediação comercial por qualquer outra. Não estamos falando de interações comerciais, mas sim de interações humanas! Uma profunda mudança nas relações humanas.
Ok! Sabemos que esta idéia é um tanto quanto radical, mas vejamos seus pontos positivos: é o fim completo da corrupção! Este câncer que se dissemina em todos os campos sociais e não só no político. É uma profunda e benéfica mudança nas relações humanas! É uma completa desoneração de nossas preocupações mais tenazes que nos cobram rugas e cabelos brancos! E a desocupação de nossos pensamentos para que estes tenham a possibilidade de exercitar num uso mais humano, livre e quiçá divino de criar o futuro e não somente o de salvar o futuro de sua malfadada sorte.

E por fim, talvez seja um caminho, um subterfúgio a esta profetizada escravidão sob o jugo da marca da besta. Ora, se só se efetuarão transações comerciais quem tiver a marca da besta na mão ou na testa. Qual nossa alternativa? Como “comprar” as coisas mais básicas, mais necessárias, senão em uma troca fraternal e humana, aliás, muito mais do que humana, fraternal ou seja com ares divinos.

Continua...

Fraternalismo microcósmico!

Pode parecer utópica a idéia de fraternalismo, sobretudo quando entram na mesma freqüência e nos remetem às idéias contidas no livro de Thomas Morus (A utopia), todavia, há de se recordar que o capitalismo anda não se instalou por completo em um dos âmbitos da sociedade capitalista: a família. Já estive em contato com famílias em que um membro, momentaneamente mais abastado, emprestava à outro membro da mesma família, à juros. Certo que dificilmente estes juros teriam os mesmos praticados pelo mercado financeiro, mas, também por certo, cobririam qualquer aplicação no mesmo mercado financeiro, reduzindo o “spread”, sobretudo pelo fato de que o emprestador não visa o dividendo das ações, mas tão somente a cobertura de uma eventual aplicação, mas para que o capitalismo pulsasse vivo e operante no ambiente familiar estaríamos falando de cobrança de “frete” para as idas à feira e ao mercado, cobrança sobre os serviços de lavar a louça, fazer comida, dar banho nas crianças. As mesmas crianças poderiam requerer sua contrapartida ao fazerem a lição. Claro que temos as diaristas que nos aliviam de parte desta rotina doméstica, cobrando por seus préstimos, contudo nas outras ocasiões o trabalho precisa ser feito e não há cobrança! Não há cobranças (financeiras!) para que o filho arrume seu quarto, nem tampouco se cobra que o filho, já formado, restitua com juros o montante do que seus pais gastaram com seus estudos e, contudo, um filho, podendo auxiliar seus pais, assim o faz e, mais foram as vezes em que uma eventual cobrança de juros teve por intuito um “puxão de orelha” no perdulário do que, em última instância o lucro, propriamente dito. O que quero demonstrar é que se, aos moldes da ilha de Thomas, entre os brasileiros pudéssemos implantar o fraternalismo, não estaríamos incorrendo em qualquer heresia.

Tenho recebido algumas objeções quanto a alguns pontos. Ora, vamos levantá-los e tentar oferecer respostas a todos, sobretudo porque o intuito agora é exatamente este o de maturar a idéia.
O primeiro ponto que me levantam é quanto a um eventual desabastecimento, no momento de transição. Claro que se agora posso “pegar” e não pagar um belo vinho para acompanhar minha refeição, ou um belo conhaque espanhol para acompanhar enquanto fumo um belo charuto cubano, oi baiano, podemos acreditar que, num primeiro momento teremos um desabastecimento de conhaques, de charutos, de sucrilhos e de, sobretudo supérfluos, mas isto se deve muito mais ao modelo atual, capitalista, que priva a grande maioria da população deste tipo de produto e não ao novo modelo. Isto é um preço a pagar por esta privação circunstancial. Todavia, não creio que todos, ao experimentar um verdadeiro Chanpagne francês, o prefeririam, ante a uma sidra nacional, de paladar mais adocicado. O que após algum tempo colocaria o amante da boa bebida novamente em contato com esta, regularizando-se, assim, seu abastecimento de forma natural.

Outra objeção comum é que algumas pessoas deixariam de trabalhar, pois não tem mais a necessidade para sobreviver o que poderia acarretar numa falta de ambição e, portanto uma inação generalizada. Quanto a este ponto também creio se tratar, muito mais de uma imperfeição do modelo atual que exige de um trabalhador que se lhe fosse dada a oportunidade de contribuir como músico, tocando seus instrumentos com o maior prazer onde quer que lhe solicitassem, ainda se vê obrigado a engordar fileiras e mais fileiras de engenheiros, advogados, dentistas e por quê não dizer de administradores de empresas, frustrados e incompetentes, pois este “trabalho” lhe rende mais dinheiro do que sua atuação como músico. De quantos poemas a sociedade fica privada, pelo fato de seus poetas terem a maior parte de seu tempo tomada pelo enfadonho trabalho de auxiliar de escritório? O quanto ficamos privados de pensamentos de bons filósofos, pois este não escolhe largar suas funções como analistas de sistemas, pelo fato de que estas remuneram mais e conferem uma melhor qualidade de vida para sua família e boa escola para seus filhos, enquanto que o trabalho de filósofo não seria sequer remunerado? O caso é que no modelo capitalista nós trabalhamos para sobreviver o que nos remete a uma condição muito mais de animal que vive por instintos do que por uma atividade humana propriamente dita. Se nos fosse dada a oportunidade, não por necessidade, mas por escolha livre de fazer qualquer coisa no intuito de contribuir, claro, escolheríamos fazer aquilo que mais nos fosse agradável e fácil. Obviamente sou obrigado a confessar que tenho absoluta fé de que Deus do alto de sua sapiência não concentrou toda uma fartura de engenheiros nos oferecendo uma safra reduzida de médicos, ou de enfermeiros. Aliás este é mais um tributo que teremos de pagar pelos desacertos do capitalismo, pois quando uma profissão tem uma melhor procura no mercado de trabalho, naturalmente seus cursos de formação em faculdades engordam sobremodo, formando fileiras de incompetentes, desempregados ou gerando uma redução nos salários quatro anos depois por conta de uma maior oferta de profissionais diplomados e que não encontram mercado que absorva sua mão de obra sacrificando inclusive o profissional competente que tem seu emprego ameaçado ante a um recém formado que aceitaria trabalhar pela terça parte de sua remuneração.

Hoje em dia temos nas gôndolas dos super-mercados uma grande quantidade de produtos que apelam para as mais diversas e colorias embalagens para cair no gosto do consumidos que acaba sucumbindo, muito mais à embalagem do que para a qualidade de seu produto. A objeção que me foi feita é que no novo modelo perderíamos o colorido das embalagens e teríamos sim um monte de embalagens “marrons” sem vida, que retirariam toda a beleza e colorido, retirando, com isso, grande parte do nosso prazer estético que experimentamos em nossa alimentação. Não compactuo com essa crença, pelo contrário, creio que muitos artistas se ofereceriam a colorir mais e mais o nosso mundo e a enfeitá-lo tornando-o muito mais bonito por um mero senso estético do que através de uma mensagem subliminar, induzir o consumidor a cair em uma arapuca e comprar seu produto e não o do concorrente. Concorrente é a corrida pelo lucro, onde todos correm como sempre ocasionando um vencedor e, claro, um perdedor. Perceba que acredito piamente que as embalagens de sucrilhos ainda teriam seus rótulos coloridos, mas agora o objetivo é diferente. É meramente estético, ou seja, humano, ao passo que no modelo atual é uma disputa feroz para vencer a concorrência e abatê-la. Creio que muitos se arvorariam a fabricar sucrilhos se não temessem o feroz e ardiloso “dumping” da concorrência. Muitos fariam muitas coisas por puro prazer se não temessem a concorrência desleal contra o Golias do capital que se posta frente a seu concorrente disposto a, maquiavelicamente, derrotá-lo ou absorvê-lo, nas hoje em dia comuns fusões do mercado.

Continua...