Olá Jadir,
desculpe, mas li seu blog e tomei a liberdade de escrever para o senhor. Meu nome é Ludwig Teixeira, tenho 27 anos e sou filósofo. Faço doutorado na Universidade [...] Porém, fato é que estou em uma encruzilhada, pois, não aguento mais passar trabalho e me sentir menor que muitos outros a custo de meu amor pela disciplina. Passo muito tempo estudando assuntos altamente abstratos para ter um retorno, a nível de qualidade de vida, muito pequeno. Nessa última semana estive pensando em jogar tudo para o alto e fazer um famoso 'concurso público'. Pensei: Veja só o que tenho estudado... teoria dos conjuntos, lógica de primeira ordem, filosofia da física quântica... se eu estudar para um concurso certamente encontrarei menor dificuldade e vou passar".
Mas é muito triste jogar um sonho fora e, o que é pior, oito anos de sua vida fora. Assim, encarecidamente, peço-lhe algum conselho quanto a estratégia de vida profissional. O que faria você no meu lugar?
Espero que o senhor tenha tempo para responder.
Att
Ludwig
(Claro que o nome dele não é Ludwig e a postagem foi autorizada por ele)
Minha resposta:
Oi Ludwig,
tenho dois blogs (http://fraternalismo.blogspot.com/ e o http://filosofianasempresas.blogspot.com/) qual voce leu?
Recomendo ambos. Por nada menos do que voce me perguntou. Os blogs são frutos de sonho. Não dão resultado prático algum. Mas em ambos tenho visitas recorrentes de vários pontos do Brasil e de muitos outros pontos do mundo inteiro.
Nos vivemos em uma sociedade que preconiza o sucesso e não percebe que sucesso é somente repetição do passado sem novidade. Ja ouvi dizerem que as empresas estão preferindo profissionais criativos. Os meus 33 anos trabalhando em empresas me dizem que isso em geral é balela. As empresas querem profissionais que usem a criatividade para resolver problemas antigos e recorrentes. Usem a criatividade para termos maior lucratividade e redução de custos. Estão pouco se lixando para a criatividade mesmo.
As faculdades, pelo que sei querem professores que se dediquem e que nenhum aluno se queixe de suas aulas, notas, e provas.
Não é bem por ai também.
Temos duas vias claras a escolher e uma obscura: a primeira é prática. estudar o que querem que voce estude e fazer o que te mandam e ganhar o que te pagam e ficar de boca fechada. Claro, isso não te dá barato. Voce acaba por viver a vida dos outros.
A segunda é o concurso público. Não sou totalmente contra essa alternativa, embora ao longo da minha vida tenha sentido enorme repulsa, hoje ja vejo com outros olhos, mas o mais importante que eu tenho a te dizer é que voce foi “fisgado pelo sistema”. Voce se queixou da qualidade de vida e esta buscando alternativas dentro do jogo para fugir do que ele tem de ruim. Concurso público, visto desse modo, é mero esconderijo.
Essas duas coisas voce deixou claro, mas embora tenha falado com pesar de abandonar o sonho não deixou claro que sonho era?!?.
Esse é o caminho obscuro. Perseguir seu sonho pode não te trazer sucesso, tampouco dinheiro, Muito menos o reconhecimento será certo, mas se voce mata seu sonho voce morre junto com ele. Transforma-se nisso que voce vem execrando. Voce se transforma em competitivo e vive o sonho dos outros.
Podemos ser competitivos durante vários anos de nossa vida. A juventude nos confere garra disposição, força de trabalho. Voce ganha, dinheiro, sucesso reconhecimento, fica por cima. Quando os anos chegam voce percebe duas coisas: que não é mais tão competitivo e te resta a trapaça para ganhar (uma quantidade enorme de pessoas usam esse método), e que abandonou a única coisa que valia o esforço para competir: o sonho!
Eu trabalhei 33 anos dentro de grandes empresas. Tive sucesso, ganhei dinheiro, e deixei tudo isso por um sonho. Fui fazer graduação em filosofia aos 43 anos. Estou terminando o mestrado agora com 48. Certamente vou para o doutorado, mas embora tenha sido seduzido a estudar inúmeros outros autores. Fiz questão de abordar em minha dissertação algo que pudesse mudar o mundo, algo que me dá profundo gosto de estudar.
Sei que vou ter muito trabalho pela frente mas como estou em "começo de carreira" tenho bastante garra para levar todas as pancadas que sei que vou tomar.
O blog do fraternalismo é um tiro no meu próprio pé. Sei que se meu nome ficar ligado a esses pensamentos não arrumo trabalho em lugar algum. É o preço a pagar por meus sonhos.
Crescemos todo o tempo vendo todos ao nosso redor fazendo de tudo para vencer, para ficar bem, ter bem estar e acreditamos que a vida é isso.
Quando acontece um desastre, uma doença, um desemprego somos levados a acreditar que foi azar ou incompetência nossa.
Errado. A vida é assim, é dura! Mas ela só é assim pois a dureza é nosso melhor professor. Temos a escolha de nos deixar endurecidos ou não. Se nossos sonhos esmorecem ante a dureza eram apenas sonhos, brincadeiras. Se nos cobrem de raiva, de força, mas também de esperança então o sonho te abençoa com a realização, pode não te trazer dinheiro, fama ou sucesso, mas vai dar profundo sentido para a sua vida.
Pelo pouco tempo que tenho dentro do campo da filosofia. Vejo alguns tipos de filósofos. Os práticos. Que têm na filosofia seu ganha pão e só isso. Ganhem bem ou não. Os Desiludidos (esses são os piores) tipo os ressentidos de Nietzsche. Estufam o peito e se dizem ateus convictos, mas apenas por saberem que estavam na "caverna" e viram que tudo não passava de uma farsa. Voltam para a caverna e cospem por todos os lados. Desdenhando de tudo e de todos tapam a porta da caverrna para que ninguém saiba onde é a saida.
E os como eu que vêem na filosofia um instrumento profundo de mudanças. Que as mudanças que os filosofos promoveram no mundo tenham em geral ocorrido sempre após sua morte é desalentador, mas eu tenho a sorte de ter em mãos também a Programação neurolinguistica que é uma ferramenta bastante prática de mudança.
Minha tarefa é bastante cruel e certamente não espero reconhecimento, pelo contrário, acho até estranho ter tantos amigos e poucos desafetos. Eu sou aquele cara que vai apontar as coisas erradas, que vai revelar as hipocrisias. Que vai mostrar a meia furada, o terno rasgado. A etiqueta chinesa da gravata de sêda.
Mas meu trabalho não é so mostrar o erro, mas apontar a direção.
Pode ser desalentador olhar ao redor e ver uma profunda crueldade, mas essa crueldade é fruto da ação de pessoas que mataram seus sonhos e por isso mesmo já morreram.
Meu trabalho é ressucitar pessoas através da ressureição de seus próprios sonhos.
Desculpe, se voce queria de mim uma dica ou um truque sobre como vencer na vida e ter uma carreira de sucesso, deve estar profundamente frustrado.
Mas eu fiz meu trabaho. Se um dia em sua vida seu sonho falar baixinho dentro de seu peito amargurado. Voce não vai poder alegar que não sabia que estava matando seu sonho.
O sonho faz voce viver apaxonado.
Já tive sua idade e hoje tenho quase o dobro dela, se uma virtude eu tenho foi a de não me deixar sufocar meu sonho.
Passo nesse momento por dificuldades extremas, mas não abro mão de amar, e de estar profundamente apaixonado pela vida.
Por favor
gostaria de seus comentários tanto por e-mail quanto no blog.
Grande abraço.
Jadir