sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Hábitos de consumo!


Geladeira, fogão, ferro elétrico, máquina de lavar roupa, celular...  Todas essas coisas são classificadas dentro da economia como “bens duráveis”. Contudo, ultimamente eles não andam durando muito! Por mais que estejamos satisfeitos com nosso moderno aparelho de celular, ao cabo de pouco mais de um ano, se tanto, ele dará seus evidentes sinais de esgotamento. A bateria já não segura carga e o aparelho desliga no meio da ligação, ou então sua carenagem já apresenta riscos que o enfeiam, ou somente porque ele não está mais na moda. Claro, poderíamos adquirir outra bateria, trocar a carenagem, mas muitos sabem que para efetuar tais reparos ficaria “quase” o mesmo preço de um aparelho novo e mais moderno. Então trocamos. O mesmo vem se dando com outros tantos bens duráveis. As peças do motor ou do mecanismo de funcionamento de geladeiras e máquinas de lavar roupa, após seu desgaste natural (ou proposital!), precisam de reposição. Em muitos casos somando-se mão de obra e tudo mais, a manutenção fica financeiramente inviável. Essa é uma guerra entre produção e consumo que não se dá em pé de igualdade. Os aparelhos são feitos para ter uma duração pequena para podermos voltar a consumir o produto novo girando a economia. Não fosse apenas o problema de produzir lixo de lenta decomposição, impossível reutilização e de difícil reciclagem. O próprio fato de sermos manipulados já é revoltante. Acho que esse é um ponto central no fraternalismo. Acho que uma nova postura deveria ser a de recuperar a todo custo nossos bens duráveis. Consertar, consertar até realmente não dar mais, mas, sobretudo, mapear as empresas fabricantes para que elas mesmas durem tanto quanto seus produtos. Uma empresa que fabrica bens que não duram, também não deveria durar! Esse seria um grande “selo verde” de consumidores conscientes. Claro, que precisaríamos mudar também nossa postura. Falamos em reciclagem e até jogamos nossas garrafinhas e latinhas no lixo reciclável, mas não reutilizamos. Uma mesma garrafinha pode ser usada por bastante tempo, mas logo vai para a reciclagem sem antes ser reutilizada para outros fins.
Não se trata de refrear os avanços tecnológicos, mas de ter um consumo consciente. A maioria das pessoas que tem notebooks ou celulares sequer utilizam 30% do potencial que a tecnologia oferece. Se a tecnologia é interessante e nos proporcionará um benefício compensador. Tudo bem! O que não podemos é ficar refém de uma compulsão pelo consumo. Ficar passivos ante a uma descarada manipulação! Claro isso irá exigir que olhemos para nossa televisão “velha” por mais alguns anos. Que nosso divertimento de explorar o celular novo fique para mais pra frente, mas pense bem: O aparelho que apenas sai da sua frente não deixa de ser problema seu. O que é feito desse aparelho? Será que se rastrearmos suas peças não as encontraremos em algum rio ou em algum lixão por ai em algum ponto daquela montanha de coisas mal descartadas, poluindo o lençol freático? Que confiança você tem de que o seu lixo será descartado ecologicamente? Não temos como garantir isso então que tal refrear nosso ímpeto de consumo somente a produtos realmente duráveis feitos por empresas também duráveis?

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Que droga!

Noite calma; pai e mãe já em casa prontos para os eventos imperdíveis: jornal e novela! Já temos enorme prática e não sentimos a menor dificuldade em encontrar a boca com o garfo, portanto o jantar não é problema e não requer atenção especial. Crianças ou adolescentes devem se contentar com atenção oferecida no período dos intervalos. A TV funciona como um anestésico. As aflições comuns, diárias parecem arrefecer ante esse milagroso placebo de projeções multicoloridas. As imagens agem em nossa mente como um ópio que amortece a pressão exercida pelas exigências diárias. Um relaxante mental e muscular ou senão uma droga lícita! Exigências de prazos, compromissos, muitos deles indesejados, cronogramas, tarefas que nos extenuam ao longo do dia a tal ponto que nossos próprios pensamentos são banidos para não onerarem o sistema.
Esse é um cenário tão típico, compartilhado por milhares, senão milhões de pessoas que é fácil reputá-lo como normal. Todavia essa normalidade pode ter um preço alto quando vistos pelo olhar das crianças ou dos adolescentes que podem eventualmente necessitar de um algo mais, coisa do tipo: sentir dentro de si algo que soe como aceitação, reconhecimento, valorização; algo como um sentimento de pertencimento! Interromper figuras que nos são tão caras em seu momento de deleite pode ter como resposta um “calaboca!”; um “perumpouco!”; um “agoranão”.
O preço disso pode vir na forma de um boletim cheio de notas vermelhas, na desobediência nossa de cada dia ou somente num olhar apático de pura frustração por não ter saciada sua sede de pertencimento. No caso do boletim, podemos usar para com nossos filhos o mesmo expediente do qual somos vítimas: a pressão! Afinal de contas a vida deles é mole, só estudam, nada mais justo! Tem todo o tempo do mundo. Não são como nós que não temos tempo para nada! Isso é bom para ele sentir na pele como é estar pressionado! Essa parece ser também uma prática normal! Contudo é também a mesma prática que onera o sistema e ai nossos pequenos vão para a rua e acabam por encontrar o simpático grupo de “perto da escola”. Acabam tendo uma boa recepção, boa acolhida e todos percebem que o pequeno está meio acabrunhado, mas nada que um “deixa pra lá vamos experimentar unzinho!” não possa resolver! Depois de experimentar um ele passa a fazer parte do grupo (pertencimento). Se experimentar dois ele é o “o cara” (reconhecimento), se forem três já vira “meu brother” (valorização). Disso, para ele conhecer o fornecedor da parada é um pequeno passo.
Podemos pensar: “Tudo culpa desses vermes desses traficantes!”. Isso também soa bastante normal! Mas fazendo o exercício de buscar enxergar o panorama pela ótica do traficante o cenário pode ganhar outros contornos. Não tendo nascido em uma casa de bacanas; não podendo estudar em colégio de bacanas, que alternativas capitalistas lícitas restariam para esse individuo? Um sub-emprego com uma remuneração pífia que certamente não lhe renderiam uma vida bacana! O meio é competitivo e para jogar o jogo dentro das regras é preciso ficar ao menos um bom tempo sob o jugo dos bacanas para ter uma remota possibilidade de se tornar um. Mas para jogar “fora” das regras muitos dos bacanas (ou ao menos seus filhos!) ficariam sob o seu jugo. Jogo de poder e força, tanto quanto outros tantos que se vêem em outros círculos sociais.
Da parcela de pecado de todos fica então assim acordado que o bode expiatório é o maldito traficante! Esse maldito tão bendito que expia nossa culpa! Esse ser sem face capaz de receber em seu alforje toda a culpa de uma sociedade que troca os pés pelas mãos e já não pode ou não sabe mais abraçar, conversar ou sorrir. Uma sociedade que fomenta a competição e não a cooperação. Que faz do outro mais um inimigo a ser vencido do que um próximo para estender a mão! Que faz de um filho um empecilho ao nosso tão necessário e merecido descanso!