Há algum tempo venho pensando sobre como será o mundo pós-capitalismo.
Muito se comemorou a queda do muro de Berlim. Fato emblemático que permitiu a
reunião de pessoas que se mantinham separadas por muros dentro de uma mesma
cidade, falando o mesmo idioma, rezando o mesmo credo, mas separadas por ideologias diferentes. As segregações
raciais ainda existentes ao redor do mundo parecem também se dissolver pouco a
pouco. África do Sul, Iraque, a antiga Iugoslávia... os muros estão sendo
derrubados ainda que timidamente. As recentes rebeliões, aparentemente buscando
liberdade no oriente médio vêm oferecendo novos contornos ao mundo. Por outro lado, o fim da Guerra fria, também fez
acabar com a ajuda mútua entre os países capitalistas. Nós, países em
desenvolvimento ganhamos e perdemos com isso. Ganhamos o fim das ditaduras
militares, historicamente financiadas pelos países ricos que temiam que o
“comunismo” se alastrasse para além da Cortina de ferro enamoradas dos antigos
regimes populistas. Ganhamos uma pretensa democracia, novos populismos. O
upgrade na categorização de “Terceiro mundo” para “Em desenvolvimento”.
Ganhamos uma autonomia para cuidar de nossas próprias contas e controlamos a
inflação.
Todavia, o processo de
globalização se tornou predatório. Produtores de rúcula, agrião, almeirão e
chicória passaram para a monocultura do alface “macdonaldizado”. Bancos de lá e
de cá foram engolidos pelos grandes. Empresas de vários ramos de atividade
foram tragadas por conglomerados multinacionais com sedes nacionais ou
internacionais (pouco importa!), ceifando centenas de milhares de postos de
trabalho exigindo que os profissionais se reinventassem ou se tornassem
“terceiros”. Por sorte a tecnologia e os cursos tecnológicos surgiram para
suprir uma demanda crescente por mão de obra pouco mais qualificada. Ainda que
em nossa economia brasileira um progresso represado durante anos possa agora
ser experimentado sazonalmente, não podemos nos enganar e confiar que estamos
imunes aos sobressaltos das crises econômico-especulativas que fazem muitos ao
redor do mundo apertar um ou outro buraco do cinto.
Países inteiros em crise, pois a
torrente financeira ascendente que marca a pirâmide social, aliada a incertezas
dos mercados. Faz o capital de investimento que poderia irrigar a base da
pirâmide descer timidamente e somente como capital especulativo. Recolhendo-se
em sua maioria nas mãos privadas dos endinheirados. Essa situação não tem como
perdurar por muito tempo. Penso que já sejam observáveis fissuras nas colunas
de sustentação do próprio sistema capitalista. Não se trata de qualquer tipo de
catastrofismo escatológico, mas de vislumbrar que o próprio capitalismo nasceu
em meio a crise similar experimentada em regime ainda essencialmente feudal
dando sinais claros de fadiga.
É que a maior parte de nós
nasceu, cresceu e viveu mergulhado até o pescoço no capitalismo e, por falta de
alternativas emergentes ainda soa epistemologicamente como verdade absoluta.
Ledo engano! Peter Drucker nos diz que:
“A
cada dois ou três séculos ocorre na história ocidental uma grande
transformação. [...] Em poucas
décadas a sociedade se reorganiza – sua visão do mundo, seus valores básicos,
sua estrutura social e política, suas artes suas instituições mais importantes.
Depois de cinqüenta anos, existe um novo mundo. E as pessoas nascidas nele não
conseguem imaginar o mundo em que seus avós viviam e no qual nasceram seus
pais.“
Penso que esse limiar de transformação está
ocorrendo agora e em breve o capitalismo sucumbirá sendo sucedido por uma nova
organização social, uma nova mediação social que não o capital e onde os
binômios trabalho-remuneração e produção-lucro serão substituídos por
contribuir-usufruir em mesma medida.
As empresas no paradigma atual
visam essencialmente o lucro, mas se não houvesse mais o lucro haveria razão
delas existirem? Para muitas penso que sim! Uma indústria de alimentos ainda
teria um propósito e penso que ainda competiria em qualidade de produto com seu
concorrente para que o produto a ser consumido fosse o seu e não o do
concorrente. Uma indústria farmacêutica séria deve ter consciência de seu papel
social. Mesmo não almejando o lucro penso que a Adidas gostaria de ver seu
material esportivo vestindo uma porção de gente e não os da Nike e vice e
versa. Modificaria a mediação social.
Hoje a mediação social entre
pessoas, empresas ou governo é feita essencialmente por dinheiro. Compramos
produtos e se não temos dinheiro (ou cartão de crédito!), não compramos.
Moramos em nossas casas, mas apenas se pagamos os impostos para o governo.
Chegamos ao absurdo de sequer nos relacionarmos com pessoas se elas não forem,
em algum momento, interessantes financeiramente para uma recolocação
profissional ou coisa que o valha. Amigos se transformaram de modo chic em
network. Nós mesmos com raras exceções so trabalhamos ou contribuímos mediante
remuneração (ou outro interesse!). Penso que os dias da mediação pelo capital
não sejam longos. Os ares da nova era nos inspiram a superar a mesquinhez.
Precisaremos aprender a viver em um mundo novo. Mas penso que teremos mais a
ganhar em humanidade do que perder em dinheiro!
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