As bases fundamentais do fraternalismo giram em torno do binômio contribuir-usufruir em contraposição à sua antítese capitalista produção-consumo. Enquanto neste segundo o eixo central é o capital ou a propriedade do capital, no segundo o eixo que os une é a fraternidade. Dentre os valores norteadores do fraternalismo a gentileza e a elegância nos garantem que não é preciso nenhuma animosidade com quaisquer dos sistemas vigentes. Em que pese isto, não é menos verdadeiro que é necessário ressaltar as diferenças fundamentais. Enquanto no capitalismo existe um fomento exacerbado ao consumo, pois quanto mais houver consumo, mais haverá produção e o eixo do capital girará com maior velocidade. No fraternalismo é preciso para fazer a girar seu eixo a contribuição fraternal. Quanto mais contribuirmos com o nosso melhor de modo fraternal, mais acrescentaremos à nossas possibilidades de usufruto. Mais teremos fartura, mas é importante atender a uma das poucas objeções que foram feitas até então à idéia de fraternalismo.
Na idéia do fraternalismo existe a abolição do intermédio do dinheiro entre o contribuir e o usufruir, isto é, se em determinado momento alguém queira usufruir de um determinado produto este pode se dirigir à rede de distribuição e simplesmente tomar para seu uso o produto de seu interesse sem nenhuma contrapartida monetária ou de qualquer outro tipo. Tampouco se fará paridade entre a quantidade ou qualidade da contribuição efetuada por essa pessoa. Todavia, imaginemos que muitas pessoas queiram ao mesmo tempo fazer uso de um bom vinho. Dezenas de pessoas se dirigindo à rede de distribuição e querendo tomar para seu uso aquele vinho. Em certo momento pode haver desabastecimento e carência do produto. Mas, note-se que este é um problema que nasce no capitalismo e não no fraternalismo. Nasce de se olhar a partir do viés capitalista, onde grande parte da população está tolhida do consumo desse produto em sua rotina diária, não por nada senão pela falta do capital suficiente para adquiri-lo. Com as políticas assistencialistas oferecidas nos últimos tempos a população mais humilde, deserdada que fora por tanto tempo, se viu em condições de adquirir produtos até então vedados ao seu acesso. Aeroportos apinhados de gente nos períodos de férias gerando tumulto e desconforto. Para quem já estava habituado a voar de avião isso era um transtorno. Já para quem fazia uso pela primeira vez tudo é festa, e, diga-se de passagem, o tratamento não é diferente do que a maioria tem em geral em rodoviárias. A dificuldade se dá por existir uma demanda reprimida ou até oprimida. Ora, não havendo necessidade de se reprimir quaisquer demandas, tampouco se fazendo incentivo exagerado e desnecessário ao consumo. Pressupostamente, a idéia original do capitalismo de regulação de produção e consumo tenderia a se equilibrar mais em torno da contribuição e fruição e, com isso, desfazendo desequilíbrios.
Mas para que a coisa não fique apenas no pressuposto. Consideremos a hipótese do desabastecimento de produtos. Para uma grande parcela da população habituada ao consumo de arroz, feijão e farinha o acréscimo de uns bons pedaços de picanha, salmão, vitela, cabrito e caviar, tanto quanto de bons vinhos e wiskies seriam bastante bem vindos. Todavia, não é de se acreditar que toda essa população faria uso cotidiano desses produtos por anos a fio. Salvo poucas exceções ninguém toma wiskie 12 anos no café da manhã. Quando se tem fartura e acesso o consumo se dá de modo muito mais comedido. Os exageros, em geral ficam sempre por conta de demandas reprimidas. Ademais esse problema existiria somente se a implantação do fraternalismo se desse de modo vertical ou seja por imposição e não por adesão como é nosso entendimento.
Jadir Mauro Galvão
Jadir Mauro Galvão