Considerando os fundamentos e as bases do capitalismo e buscando contrastar seus eixos de sustentação, tanto quanto como ele se distingue de seus falecidos opositores, a saber: comunismo e socialismo, poderíamos ingenuamente acreditar que um dos elementos distintivos seria a “propriedade dos meios de produção”. Enquanto no capitalismo a propriedade dos meios de produção é privada, no socialismo ela é do estado e no comunismo a propriedade é “comum”. Ocorre que o eixo central do capitalismo foi-se deslocando ao longo do tempo. Na medida em que se deu um natural equilíbrio entre produção e consumo, claro que mediado pelo dinheiro, isto é, na medida em que havia uma redução do consumo regulado pela oferta de dinheiro. A produção já não proporcionava ganho competitivo aos seus proprietários. Era preciso dar um passo a mais. Não adiantaria produzir mais, pois isso acarretaria uma natural queda de valor pela maior oferta em relação à procura. Por um tempo se trabalhou no sentido de reter a produção com vistas a aumentar o valor de mercado, mas isso provocou apenas recessão e não se mostrou como uma alternativa interessante. Foi ai, então descoberta a variável do consumo. Como conhecer o consumo de modo à regular, isto é, aumentar e reduzir, ter controle sobre ele? Ciência da computação, estatísticas entre outras foram talhadas para obter esse conhecimento sobre consumo de tal modo a ter controle sobre o mesmo. Grandes empresas realizam pesquisas antes do lançamento de novos produtos e por ai vai. A partir disso nasceram os fast-foods o descartável e tudo mais. A propaganda é um excelente órgão regulador. Ela tem a capacidade de trabalhar nosso desejo de modo a atingir determinada meta de consumo. Os profissionais de propaganda ainda desconhecem seu poder e anda trabalham muito em função da produção e do comercio. Tivessem eles a real dimensão de sua atuação e seriam os novos proprietários do capitalismo, mas de qualquer modo isso retirou a primazia dos proprietários da produção. Na medida em que a propaganda não ocupou esse espaço promoveu uma vacância temporária. Os senhores da produção perderam seu reinado, seus sucessores naturais não se sentiram dignos de sucedê-los. Quem assume a majestade então?
Entre a produção e o consumo não há mais uma regulação natural. Ela pode ser controlada e manipulada. Todavia, existe outro elemento regulador. O dinheiro! De nada adianta aumentar o desejo de consumo pari passo com o aumento da produção se não existe dinheiro para mediar as duas pontas. Estabelecem-se assim os novos monarcas: os proprietários do dinheiro. A partir de então serão eles os reguladores, tanto da produção quanto do consumo. Os proprietários da produção precisarão recorrer a eles para aumentar sua produção. Na outra ponta, a falta de dinheiro não será mais empecilho para o consumo. Ao consumidor serão ofertados os meios para saciar temporariamente seu desejo de consumo.
Na medida em que emprestam dinheiro para a produção tornam-se co-proprietários dela. Se o proprietário da produção não puder pagar o empréstimo, sempre poderá abrir mão do negócio como meio de não cair na execração da inadimplência. O mesmo ocorre com a outra ponta se o consumidor não puder saldar sua promessa será obrigado a ficar fora do jogo do consumo, ou, quando muito, será obrigado a lançar mão dos recursos disponíveis no presente não sendo ele mais senhor de seu futuro, totalmente comprometido com seus novos proprietários. Financiar nossas aquisições em 36, 48 ou mais vezes é vender a propriedade do nosso futuro. Em momento algum da história o termo “tempo é dinheiro” foi mais verdadeiro.
Jadir Mauro Galvão
Jadir Mauro Galvão
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